domingo, 8 de março de 2015

DIVERSIDADE E SELEÇÃO ARTIFICIAL DE CÃES




Seleção natural é o processo proposto por Darwin como o mecanismo por trás da evolução, é a "lei do mais forte". O conceito básico de seleção natural é que as condições ambientais (a "natureza") selecionam o quanto uma determinada característica de um organismo ajuda ou não na sobrevivência e reprodução desse organismo.

Algumas destas características são neutras, não beneficiam nem representam perigo para o indivíduo que as possui. Entretanto, outras afetam a habilidade de sobrevivência e reprodução do indivíduo. Animais que precisam se esconder e têm pelagem diferente e mais visível do que as outras espécies, provavelmente morrerão jovens sem ter tido filhotes. Quando isso acontece, a variação genética que causou aquela pelagem diferente estará perdida. Essa característica é eliminada. Por outro lado, animais que têm qualidades benéficas sobreviverão melhor e reproduzirão mais, aumentando a proporção destas características na população. Como essas características tornam-se mais comuns, a população muda à medida que fica mais adaptada ao ambiente.

A seleção artificial é conduzida pelo ser humano. O homem promove uma seleção direcional escolhendo os indivíduos que possuam as características que pretende selecionar e promove o cruzamento entre os indivíduos selecionados. Nas gerações seguintes faz o mesmo tipo de seleção. Desta forma, os genes responsáveis pelas características escolhidas aumentam de freqüência e tendem a entrar em homozigose. Ao mesmo tempo, pode-se evitar a reprodução de indivíduos que não possuam as qualidades desejadas.

A seleção artificial de cabeças cada vez maiores em Buldogues, por exemplo, significa que a maioria de seus filhotes precisará nascer por cesariana. Esta não é uma característica escolhida pela natureza, mas com a ajuda da medicina veterinária é possível selecionar um animal com esta característica.

De onde veio toda essa diversidade? Estudos feitos em fazendas de raposas na Rússia podem revelar a resposta. Nos anos 50, o cientista russo Dmitri Belyaev começou a cruzar seletivamente raposas prateadas criadas em cativeiro em uma fazenda de peles, com a idéia de domesticá-las. Ele escolheu cuidadosamente raposas mais tolerantes aos humanos do que as outras. Depois de algumas gerações, as raposas ficaram mais mansas. Porém, desenvolveram cores estranhas de pelagem e outras características diferentes, como orelhas caídas e caudas enroladas. As novas raposas de Belyaev latiam mais e as fêmeas entravam no cio mais cedo e com mais freqüência que suas ancestrais. Na verdade, as raposas de Belyaev tinham exatamente as mesmas qualidades que vemos em cães, mas nunca em lobos.

Com base na pesquisa com as raposas, a pressão seletiva natural na população de lobos por um comportamento mais manso pode ter dado início a uma população de lobos com vários tipos de características. Surge, então, um grupo de animais que são menores e mais amistosos do que os lobos e de todas as cores. É a partir deste ponto que pesquisadores como os Coppingers dizem que os humanos começaram a adotar os filhotes, selecionando algumas características sobre as outras, usando a seleção artificial para criar os diferentes tipos de cães.

A criação das raças caninas

Em algum ponto, as pessoas que viviam com os cães perceberam que eles tinham características que poderiam ser aproveitados para diferentes atividades: eles latem para avisar que há um intruso; seu olfato e audição superiores fazem deles melhores localizadores de presas do que os caçadores humanos; e seu tamanho e agilidade facilitam o trabalho de caça.

De acordo com os Coppingers, lobos selvagens são predadores e seu comportamento segue a seguinte seqüência:

Orientar-localizar-espreitar-perseguir-pegar/morder-matar/morder-dissecar

Primeiro, o lobo observa sua presa. Então, concentra-se, espreita de uma maneira furtiva e prepara-se para a perseguição, que pode culminar em pegar/morder ou matar/morder, e esta seqüência pode acabar antes do matar ou dissecar.

Os lobos precisam usar todos esses comportamentos para sobreviver. Nos cães, esse padrão acaba. À medida que as pessoas criaram os cães, separaram os padrões de comportamento, enfatizando alguns aspectos e eliminando ou diminuindo outros, dependendo de seu objetivo.

As pessoas podem promover certas características cruzando cães com as mesmas características ou deixando que cruzem aleatoriamente, selecionando apenas os filhotes com as características desejadas. Em ambos os casos, a freqüência genética da qualidade desejada aumenta a cada geração.
Cães de pastoreio devem observar e espreitar, nunca morder ou matar. Cães galgos devem perseguir. Cães-de-caça devem pegar a presa mas nunca dissecar. Cães que fazem bem seu trabalho podem reproduzir, aqueles que não fazem bem não reproduzem. Com seleção intensiva, as características podem ser fixadas em poucas gerações. Em algum ponto, o novo tipo de cão pode ser chamado de raça.

Um Border Collie pastoreando cabras lembra muito um lobo espreitando sua presa. A cabeça fica baixa, o corpo perto do chão, os olhos fixos na presa. Entretanto, ele usa esse comportamento para fazer as cabras se moverem, não para caçá-las. O mais impressionante é que eles costumam ser muito melhores no que fazem do que os lobos dos quais descendem.

Para um tipo de cão ser reconhecido como uma raça, deve haver um registro dos cruzamentos por várias gerações. Estes animais devem ter características fixas, isto é, devem produzir ninhadas relativamente homogêneas. Para cada raça reconhecida por grupos como o American Kennel Club (em inglês), existe um padrão da raça. Esse padrão é uma descrição completa de como um exemplar ideal da raça deve ser e seu temperamento. O padrão especifica tudo: cor, comprimento e textura da pelagem, postura, atitude e formato dos olhos. Nem todos os exemplares da raça serão exatamente como descreve o padrão, mas os bons criadores estarão sempre tentando atingir esse objetivo.

Seleção e criação

Geralmente, apenas alguns poucos indivíduos podem gerar uma nova raça de cães: isso cria a seleção. Significa que, mesmo que haja muita diversidade genética entre todos os cães, somente as versões específicas desses genes possuídos por um pequeno número de reprodutores selecionados farão parte da nova linhagem. Se a pelagem branca é uma qualidade desejada, por exemplo, o criador selecionará somente cães brancos. Apesar de existirem muitas outras cores, as versões de genes que as codificam não farão parte da nova raça. Isso reduz a diversidade genética.

O efeito criação também pode reduzir a diversidade genética. Às vezes, grande número de animais de uma determinada raça são perdidos; pode ser que ela torne-se impopular ou uma doença mate muitos exemplares em uma área. Neste caso, grande parte da diversidade genética será perdida. À medida que o número de indivíduos de uma determinada raça é reduzida a poucos exemplares, a diversidade genética da população original não estará mais disponível, mesmo que a raça torne-se popular novamente e a população cresça.
                                                                                        Hannah Harris



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